Reciclando um e-mail que mandei pro grupo faz tempo. Ainda espero respostas.
Numa postura idealista, ética e moral, não haveria um certo simplismo maniqueísta na retórica "vamos salvar o mundo"? Afinal, o "se cada um fizer sua parte" não seria tão utópico e inalcançável quanto acreditar no anarquismo, em que a consciência individual levaria a uma auto-regulação coletiva para o bem comum? Não se trata, portanto, de uma mera ilusão auto-infligida para que tenhamos paz de consciência? Do ponto de vista pragmático, uma pessoa que age completamente anti-sustentabilidade, mas que consegue convencer 10 a assim agir, não colabora mais com a sustentabilidade do que quem faz sua parte, mas não quer ficar convertendo pessoas para sua causa com medo de ser visto como um ecochato? Contudo, não é a primeira atitude a que é repudiada? Quanto do discurso sustentável busca a sustentabilidade como objetivo a ser atingido, e quanto dela não passa de retórica idealista e sonhadora, com ou sem fins de projeção de uma imagem melhor de seu portador?
E se explorarmos outra possibilidade de julgarmos a sustentabilidade de uma pessoa, por critério de realização de potencial (ou seja, quantos % do seu potencial sustentável você preencheu, o que permite avaliar não só o que é feito, mas também o que se deixa de fazer)? Um designer que projete algo cujo quesito sustentabilidade fique muito aquém do possível não causaria um impacto ambiental muito maior do que qualquer atitude sua, pelo fato do impacto ambiental de seu produto se escalar em proporções que transcendem o que ele poderia influenciar diretamente, pelo fato de ser produzido em massa? Nesse caso, não estaríamos penalizando justamente aqueles que possuem a capacidade de melhorar as coisas, concentrando neles a pressão do restante (estilo herói dos quadrinhos que é execrado pelas pessoas que não conseguiu salvar)?
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
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Sobre o primeiro parágrafo: vender o verde não é o tal do greenwashing? Um exemplo é aquele banco que diz usar somente papel reciclado. Ou se a anti-sustentabilidade for pior que 10 pessoas que ela convence? Por que você acha que ninguém quer fazer a sua parte? Só o fato de economizar alguns sacos plásticos no mercado já é uma grande diferença. Não é preciso se sacrificar igual a um herói para ser um pouco mais sustentável.
ResponderExcluirAgora medir o potencial só vai funcionar se a sociedade permitir, pois de que adianta fazer uma cadeira 100% sustentável se não vender? Fora que medir sustentabilidade não é algo fácil. Qual cadeira mais sustentável, uma cadeira de papelão ou uma durável? Ou a velha história das fraldas: descartáveis ou de pano?
Eu não estava questionando a prática de medidas sustentáveis ou não. Eu estava questionando a maneira como as pessoas vêem essas medidas e a retórica, que acaba por distorcer o objetivo inicial. Tem-se como resultado final que as ações que mais têm impacto positivo não são necessariamente as mais valorizadas; logo, o discurso da sustentabilidade criou vida própria, independente do conceito que o originou. Não quis abordar esse conceito original, apenas a separação. E, para fazer isso, relevei a medida exata do que seria mais sustentável, usando exemplos hipotéticos não específicos. A questão de preenchimento de potencial também independe de medição precisa, é um exercício de construção de cenário.
ResponderExcluirAntes de continuar, qual o motivo de medir o potencial sustentável de cada pessoa?
ResponderExcluirSó usei isso para ilustrar outra discrepância entre o que é julgado pelas pessoas sobre os atos "sustentáveis" de alguém contra os efeitos reais deles.
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